O retrocesso do MEC

Essa é uma carta para os que apoiam o atual Ministro da Educação.

Expresso aqui minha opinião sobre a enrascada que estamos com o Mercadante como Ministro da Educação.

Para introdução, peço que leiam a reportagem: http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,mec-estuda-separar-enem-entre-prova-de-certificacao-e-vestibular,10000006759

A reportagem diz claramente que ele quer dividir o ENEM em 2 porque acha injusto que uma prova tão difícil seja usada como certificação do Ensino Médio, mas que ela pode ser usada como vestibular. Na minha interpretação, isso significa que o caminho do ENEM é mascarar o péssimo resultado das escolas públicas, além de reforçar que a entrada nas Universidades públicas será feita prioritariamente através de 2 sistemas: mérito em uma prova difícil (alunos de escolas particulares) e cotas (que não incluem cotas para pobres).

Em prol de apresentar um resultado numericamente maior, provoca-se o retrocesso no sistema de ingresso a Universidades. É o retorno ao vestibular que fizemos na década de 1990.

Na semana passada tive uma longa reunião com o Prof. Frederic Litto. Ele é presidente da Associação Brasileira de Ensino a Distância, professor emérito da faculdade de educação da USP e um dos fundadores da Escola do Futuro (iniciativa da USP para estudo e pesquisa em metodologias educacionais).

Durante a reunião ele apresentou um estudo dele que indica um caminho bem interessante: hoje temos 85% dos professores atuando em escolas públicas no Brasil (Ensino Básico). O problema é que 85% dos novos formandos em licenciatura e Pedagogia estudam em Universidades particulares, que não são obrigadas pelo MEC a fazer pesquisa. As únicas universidades de educação que fazem pesquisa são as públicas. E adivinha onde nascem as inovações educacionais? Nas Universidades públicas. E onde os professores formados poe ela vão trabalhar? Nas escolas particulares. Por quê? Porque as escolas particulares cobram mais inovação e pagam mais.

Esse ciclo vicioso provoca o aumento da disparidade no resultado dos alunos. Se o ENEM for desmembrado, o abismo será coberto com dados fictícios, já que os alunos das escolas particulares não precisarão fazer mais o exame. As escolas públicas serão comparadas com elas mesmas. Será como eleger o mais são do hospício, ou o mais culto do baile funk, ou o saudável da UTI.

O caminho não é esse, maquiando os dados do sistema. É preciso obrigar que os alunos das Universidades públicas paguem pelo seu estudo com estágios obrigatórios em escolas públicas. É preciso ter metas, medir o resultado e cobrar ações (assim como a legislação educacional prevê). É necessário que o professor seja reconhecido e remunerado pelo seu desempenho e não pelo tempo de “trabalho”.

Sugiro que todos apertem o cinto e fiquem de olho na educação do nosso país. O Mercadante é o ministro de número 63 (incluindo os interinos) em 83 anos de história do MEC. Em média um ministro fica 1,4 anos no cargo. Vamos torcer para que o tempo passe rápido.

 

 

A responsabilidade do professor

A Fundação Itaú Social trouxe para o Brasil o Economista e estudioso de Educação David Figlio para um seminário sobre Avaliação Econômica de Projetos Sociais. A jornalista Ocimara Balmant, de O Estado de São Paulo, em entrevista com o David, conseguiu uma resposta interessante a uma pergunta simples:

Quais os caminhos para melhorar o rendimentos dos alunos?

É uma pergunta difícil. Há poucos estudos que oferecem uma prova definitiva. Uma coisa que sabemos é que professores excelentes fazem uma grande diferença, mas não temos tido sucesso em definir formas consistentes de treinar os docentes ou em identificar quem será excelente antes de começar a lecionar. Por outro lado, as escolas conseguem estimular o desempenho dos alunos quando eles são desafiados. Fica claro, então, que há políticas e práticas que podem funcionar. Minha pesquisa atual envolve a observação do que as melhores escolas têm feito e verificar se as que fazem as mesmas coisas em diferentes contextos conseguem resultados diferentes.

A resposta do David Figlio casa exatamente com o que escrevi em 2008 e postei ontem no site. A formação do professor deve ser anterior a sua chegada a escola, já que suas influências educacionais partem da infância. O professor de hoje reproduz exatamente suas as práticas educacionais que ele vivenciou ao longo de pelo menos 14 anos de experiência como aluno em escolas, somados a técnicas e práticas adquiridas na Universidade.

Se o professor da Universidade não for formado para trabalhar uma nova prática educacional, não há programa de formação de professores que funcione em redes públicas ou privadas de ensino.

É claro que isso não invalida os programas de capacitação de professores, mas está claro que sua eficácia será maior se ele vier acompanhado de ferramentas educacionais que efetivamente possam ser usadas na sala de aula. Assim os colégios poderão capacitar e instrumentalizar os professores, compartilhando os resultados positivos ou não com eles.