Conforme prometido, aqui vai o terceiro e último texto escrito em 2008 para publicação no newsletter da Humus Educacional.
O interessante é que o tempo passa e os problemas não são resolvidos.
A partir de amanhã publicarei novos textos, analisando o cenário atual e esclarecendo problemas e soluções sobre a Gestão de colégios. Você tem uma sugestão de tema? Comente ou envie e-mail.
Boa leitura!
A formação do novo professor
O MEC começou a mudar a história da educação no Brasil ao instituir o Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental – FUNDEF, em 1996. Ao criar o Fundo, o MEC passou a estimular o investimento no Ensino Básico público e a criar mecanismos de controle dos gastos. Essa iniciativa aconteceu ao mesmo tempo do lançamento do projeto de universalização do Ensino Fundamental, fazendo com que fosse obrigatória a permanência no sistema de educação de todas as crianças em idade escolar.
Essa iniciativa lembra a história da Coréia do Sul que, na década de 1970, começou a mudar sua educação pela universalização da matrícula. A preocupação era que toda criança ficasse na escola o maior tempo possível, não importando, no primeiro momento, a qualidade do ensino. No momento seguinte, outras medidas foram tomadas, como a centralização dos investimentos educacionais, a descentralização da decisão e a criação de um sistema de avaliação claro e legítimo.
Para criar seu sistema de ensino, a Coréia do Sul estudou profundamente o projeto realizado pela Finlândia, país com melhor qualidade de ensino medido pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – que compara o desenvolvimento educacional de trinta países que utilizam seu modelo.
A Finlândia tem em seu histórico educacional o mesmo caminho seguido pela Coréia do Sul e pelo Brasil: a primeira etapa é a reforma da legislação educacional, passando pela municipalização da educação, pela unificação do sistema de financiamento da educação, pela reforma dos currículos escolares e chega à unificação das séries do Ensino Básico. Todo esse trabalho começou em 1968 e ainda não acabou.
Se o caminho é o mesmo, por que o Brasil não avança tão rápido quanto avançaram a Finlândia e a Coréia do Sul?
Podemos responder a essa pergunta de muitas formas diferentes. Vou me ater a um aspecto: a decisão de investir antes na avaliação e depois na formação do professor.
Ao instituir o Saeb – Sistema de Avaliação do Ensino Básico – em 1990, antes da mudança da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, o Brasil deu o primeiro passo para um novo direcionamento no seu Sistema de Ensino, cerca de vinte anos depois da Finlândia e da Coréia do Sul. O Saeb foi melhorado e passou a incorporar a Prova Brasil e a Provinha Brasil. O ENEM foi criado para avaliar o Ensino Médio e, apesar de não fazer parte do Saeb, segue a matriz de competências da OCDE.
Todos os investimentos realizados pelo MEC em avaliação ainda não se traduziram em uma questão anterior: para trabalharmos com nossos alunos da mesma maneira que eles serão avaliados, com base na metodologia de competências, precisamos de professores que saibam o que são competências e que sejam formados na mesma metodologia.
Essa história lembra-me a história de um diretor de Escola que demite um professor extremamente tradicional e contrata um recém-saído da Universidade para mudar o formato de ensino. Ao acompanhar seu novo professor, ele percebe que a arrumação da sala é a mesma, a dinâmica da aula é a mesma, a forma de abordar o conteúdo é a mesma, a metodologia é a mesma. Ao abordar o professor sobre sua aula, o Diretor recebe como resposta: “desculpe-me, mas estudei por quatorze anos em escolas dessa maneira, mais quatro anos na Universidade dessa maneira, eu não sei como fazer isso diferente”.
O Brasil começou pela avaliação em 1990 e, apenas em 2008, anunciou investimentos em pesquisa para melhoria da formação dos professores. Esse hiato de dezoito anos já está fazendo diferença em nosso desempenho. Não podemos cobrar de nossos professores uma atuação metodologicamente alinhada com o sistema de avaliação do MEC, tecnologicamente atualizada e mais próxima da linguagem dos alunos se não mudarmos seu sistema de educação.
Em curto prazo, é necessário capacitar nossos professores para atuação de maneira próxima a nossa Proposta Político-Pedagógica, alinhando o trabalho com a retenção de talentos. Em longo prazo, o país precisa priorizar o investimento em novas metodologias no Ensino Superior.