Minha origem profissional é administração de colégios. Durante alguns anos me limitei a fazer trabalhos operacionais em escolas, como fotocópias, encadernações, montagem de provas, atendimento de telefone, portaria, conferência de carimbos em carteirinhas, datilografia de documentos contábeis, secretaria escolar e outros.
Os primeiros anos foram compartilhados com colegas de trabalho mais experientes, que sabiam como operacionalizar cada área da empresa, usando técnicas que eles aprenderam, adaptaram ou inventaram. A simples montagem de uma prova exigia técnicas de recorte e colagem que não são ensinadas no Ensino Fundamental (anos em que mais usamos tesoura e cola), e produziam cópias livres de sombras de colagens tortas ou mal feitas.
Em muitas empresas que trabalhei, incluindo algumas do setor educacional, não havia sistemas formais de educação de adultos. Aprendia quem queria, e se perguntasse para alguém.
E por que não havia educação de adultos?
Chamo de educação de adultos porque não gosto de nomenclaturas pomposas que representam o mesmo, como capacitação de colaboradores ou treinamento de funcionários.
Depois de alguns anos me dedicando a projetos de educação (ou capacitação, ou treinamento, depende do termo que você gostar) de adultos, resolvi estudar mais sobre o fracasso desse processo nas empresas. Cheguei a 2 conclusões:
1 – As empresas não querem educar
Não querem porque consideram que toda contratação deve ser feita com profissionais prontos para entrar e agir imediatamente, quase como um processo de simbiose instantânea entre o histórico educacional, profissional e pessoal do recém contratado e o modo de trabalho, os objetivos estratégicos e os valores da empresa.
Isso ocorre por alguns motivos:
- As contratações não são planejadas.
- Não há banco de profissionais com perfil adequado aos cargos com maior rotatividade.
- Não há conhecimento das competências que os profissionais precisam ter para desenvolver suas tarefas e cumprir suas responsabilidades.
- O processo de seleção não avalia a distância entre o status atual de conhecimento técnico e comportamental do contratado e o desejável para o cargo.
- Não há treinamento prévio mínimo pronto para aplicação imediata.
- Há a certeza que o salário deve pagar o tempo de trabalho, e não de estudo do funcionário.
Esses e outros motivos são usados com frequência pelas empresas, mesmo de maneira indireta.
2 – Os funcionários não querem aprender
Todos nós sofremos durante 14 anos de escola básica, mais alguns anos no Ensino Superior. Na escola o momento mais chato sempre é a aula. Em um local que promove a reunião de pessoas da mesma idade, em grupos que compartilham o mesmo interesse, o aluno precisa ficar cerca de 80% do tempo sentado, quieto, virado para frente e sem falar com ninguém (mesmo que o aluno do lado seja o mais chato da escola).
Em um grupo com crianças e adolescentes, exigir que eles se comportem dessa maneira é trata-los de forma incoerente com seu desenvolvimento intelectual e social. Mas nós todos fomos tratados assim. Talvez por isso as portas das escolas fiquem lotadas de alunos conversando em momentos de entrada ou saída (todos tem pressa de sair da escola para ter a liberdade de se socializar).
Quando crescemos e entramos em uma empresa, a última questão que gostaríamos de ter é aquela velha educação novamente. Estudar significa para a maioria das pessoas um ato penoso, que remete ao sofrimento de aprender conteúdos que temos certeza que nunca usaremos em nosso dia-a-dia.
Esse bloqueio é corroborado com os processos educacionais tradicionais que algumas empresas levam para seus funcionários. A adoção do Ensino a Distância por si só não resolve o problema, já que a tecnologia muda mas, em geral, o processo de ensino e aprendizagem não (um ensina e o outro escuta, repete exercícios e responde questões pré determinadas).
Se as empresas não querem ensinar e os funcionários não querem aprender, qual a saída?