No meu último artigo, citei com felicidade que a tecnologia finalmente estava sendo usada para o bem da educação [veja aqui]. Esse artigo faz parte de uma série de reflexões sobre o uso de tecnologia na educação básica, que também pode ser incorporada em processos de educação para adultos (role o site e leia os artigos anteriores).
Ontem o Professor Sugata Mitra, citado no artigo anterior, palestrou na abertura da Campus Party Brasil, e provocou polêmica ao afirmar que “iPad em sala de aula é como dar um videogame”. Assim que a notícia foi publicada o debate teve início: de um lado os defensores do uso da tecnologia tentando minimizar os impactos da afirmação bombástica; de outro educadores aversos a tecnologia usando a frase como estandarte em prol da defesa do professor.
Minha opinião: besteira de ambos.
Uma frase fisgada em uma palestra não reflete o que o Professor Sugata Mitra, nem ninguém, quer dizer. Se ele quisesse afirmar somente isso, sua palestra duraria 3 segundos. A imprensa, via Portal Terra, fez o papel de criar a polêmica através da publicação da frase no título da sua reportagem, e os educadores rasos, que não estudaram o trabalho do Prof. Sugata, morderam a isca. É preciso ler, estudar e interpretar para depois emitir uma opinião. Assim eu aprendi no colégio, na faculdade, na pós-graduação, no mestrado e nas empresas que passei. Toda vez que fui raso ao defender minhas opiniões, era questionado e obrigado a voltar para a mesa de estudos.
Continuando com minha opinião, parece que estamos criando uma nova luta entre trabalhadores da mesma classe: os professores pró-tecnologia e os contra. Nesse momento alguns leitores buscarão em suas memórias histórias do passado onde vivemos outros embates, procurando justificativas para se posicionar de um dos lados. Na verdade isso não importa e representa mais uma perda de tempo e energia.
A busca correta deveria ser pelas respostas às seguintes perguntas:
- Quem é meu aluno? Isso quer dizer: de onde ele vem? Qual sua condição sócio-econômica? Como ele se relaciona com seus amigos? Como ele aprende em família?
- Quem é meu colégio? Isso quer dizer: qual é a sua proposta pedagógica? Como ele se posiciona no mercado (mesmo uma escola pública possui um mercado)? O que ele quer realizar hoje, amanhã e no futuro?
- Quem sou eu? Isso quer dizer: que metodologias eu conheço? Quais metodologias eu preciso aprender? Que educador eu quero ser?
Sem essas perguntas respondidas não podemos mudar o status atual do processo ensino-aprendizagem de uma sala de aula. Nem com a decisão do Diretor do colégio, que tem o poder de comprar iPads ou similares e entregar nas mãos dos alunos e professores, conseguiremos introduzir inovações tecnológicas na sala.
Está provado pela nossa sociedade que não há solução única para todos os males, sejam eles da saúde, do transporte ou da educação. Precisamos estudar soluções e adequar, se for o caso, para a nossa realidade.
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PS: Sou a favor da tecnologia em sala de aula, mas ela deve vir depois do entendimento da proposta pelos professores, sua cumplicidade com o projeto, capacitação inicial e constante de todos os educadores. A esses educadores deve-se incluir o Coordenador, Orientador e Diretor.
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