A preocupação com a sustentabilidade financeira dos países sempre passou pelo pilar básico da capacidade de produção, seja ela de matéria-prima, de bens de consumo, de serviço ou de conhecimento. O que muda nas relações econômicas do mundo no século atual é que a qualidade da educação passa a ser base para o desenvolvimento de qualquer um dos pilares de sustentação econômica. Sem que os sistemas educacionais dos países contribuam para garantir a qualidade da educação, não há garantia de que o sucesso seja alcançado.
Essa abordagem pode assustar educadores mais tradicionais, que sempre tiveram como preocupação garantir a qualidade da educação com base no que eles consideravam como excelência de qualidade, na educação que tiveram ou na educação que aprenderam na Universidade. Mas essa não é mais a necessidade dos sistemas educacionais. Se antes precisávamos nos basear no passado, agora precisamos olhar para frente, conectar os sistemas educacionais em quem efetivamente contrata os egressos e atender às necessidades de mercado.
Para fugir da falácia de comparar nosso sistema educacional com o de países emergentes ou desenvolvidos, como geralmente encontramos em reportagens de jornais e revistas, vamos observar o caso Brasil:
1 – Em pesquisa recente do MEC foram verificados os currículos dos cursos de Pedagogia. Em média, uma faculdade de Pedagogia trabalha cerca de 11% da carga horária com a prática educativa. Eu, que sou pedagogo, não me lembro de ter estudado mais do que 5%. Esse fato me fez gastar (no sentido literal da palavra) tempo, esforço e paciência dos alunos em experimentações na sala de aula. Isso é correto?
2 – O Brasil possui apenas uma opção de estudo para alunos do Ensino Médio. Mesmo que ele opte pelo Ensino Técnico, disciplinas acadêmicas e sem conexão com sua realidade profissional precisam ser ministradas. Isso significa que, em uma geração que pratica a liberdade de expressão, a comunicação digital, a liberdade em se vestir, a organização em tribos e que tem os diversos estilos combinados em um mesmo espaço físico (a sala de aula), todos precisam aprender os mesmos conteúdos, com a mesma velocidade, com o mesmo formato, sem se comunicar ou usar outro recurso que não seja padrão imposto pela escola. Nossos filhos realmente precisam, ou querem, ou conseguem, aprender como nós aprendemos?
3 – Apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ter erradicado o currículo único para o Ensino Básico, ele continua a ser pautado pelo conteúdo cobrado em provas de vestibulares. Por isso em São Paulo os alunos estudam História Antiga no Ensino Médio e no Rio de Janeiro não, por exemplo. Essa mesma universidade forma o professor para trabalhar no modelo de educação baseado em conteúdos clássicos, que gasta até 89% do seu tempo em estudos teóricos, sem ter tempo de conectá-los com a prática do ensino ou sua aplicação em outros setores profissionais. Quem está certo ou errado no sistema educativo? Ou o erro é do sistema?
4 – Desde 1998 o MEC aplica o ENEM, um exame nacional que tomou força ao tornar público o resultado de redes e sistemas municipais, estaduais e federais de Ensino Básico, além das escolas individualmente, ao se tornar necessário para o acesso ao ProUni, Programa Universidade para Todos, e ao avaliar os egressos do Ensino Médio com base em competências, e não em conteúdos. Em recente Seminário sobre o Ensino Médio realizado em São Paulo, o diretor do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, posicionou-se contra o ENEM, o Exame Nacional do Ensino Médio. Em sua palestra ele fez alguns questionamentos, que repasso para vocês: já que o Brasil participa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e aplica o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), porque não optar por aplicar o PISA para todos os alunos? Por que criar uma avaliação própria? O que nos faz pensar que somos diferentes e precisamos investir em uma avaliação que já existe em todo o mundo?
– No Brasil uma grande parcela dos alunos de Universidades públicas é proveniente do Ensino Básico privado, que podem pagar pelo Ensino Superior. A iniciativa do MEC em instituir o sistema de cotas ainda está baseada em raça, e não em renda, o que mostra o claro distanciamento do foco sócio-econômico e a aproximação do foco racial. Por que não focar o sistema de cotas no critério financeiro?
Apenas com nossas reflexões frente aos questionamentos, podemos analisar os fatos acima e entender que algo não vai bem e o impacto é colhido no dia-a-dia: as empresas investem cada vez mais em educação para seus empregados; os cursos de pós-graduação, que tem o currículo mais livre, são cada vez mais acessados; e as escolas, que continuam a trabalhar pressionadas pela falta de liberdade curricular e pelas características educacionais dos professores que recebe, não conseguem acompanhar a evolução educacional cobrada pelo mercado produtivo.
Diante dessas constatações, como podemos melhorar nosso sistema educativo? Minha dica está na participação ativa em Seminários, Fóruns e Congressos da área, pressionando os governantes eleitos por nós e divulgando nossas opiniões.
Texto por Denis Drago. 18/12/2008.